Evanio Magalhães
Uma questão de Identidade.
Atualizado: 16 de fev.
Como indivíduos, cada um de nós temos uma identidade própria, que é o conjunto de nossas crenças, valores e práticas.
O interessante é que muitas dessas crenças, valores e práticas, podem ser compartilhadas com outros indivíduos. Quando isso acontece, dizemos que nos identificamos com essas pessoas.
Quando temos um povo, uma sociedade, ou uma congregação, o que os une é justamente essa identificação mútua. Com o corpo de discípulos de Yeshua não é diferente. Necessitamos de uma identidade conjunta que nos habilite a caminharmos juntos.
A diferença consiste em que, nos ajuntamentos cívicos, ou na formação de uma sociedade, essa identidade nasce dos indivíduos, e é regido por eles. Mas no corpo de discípulos de Yeshua, que chamamos de igreja, essa identidade nasce do próprio Yeshua, que é nosso Mestre e Senhor.
Assim, o conjunto de nossas crenças, valores e práticas são designados por Deus a nós, a fim de que tenhamos uma identidade não apenas entre nós, mas uma identidade com o próprio Yeshua.
Neste aspecto, o calendário tem um valor especial.
Um calendário não serve apenas para contarmos o tempo e as estações. O calendário também nos permite celebrarmos em unidade eventos relevantes, e que forjaram a nossa identidade conjunta. Como brasileiros, celebramos os dias 22 de Abril, 7 de Setembro, e 15 de Novembro, que foram datas em que ocorreram os principais eventos que nos forjaram como nação, o descobrimento do Brasil, a declaração de independência, e a proclamação da república.
Da mesma forma o Eterno nos deu um calendário, para que celebrássemos os eventos que forjaram nossa fé. Esse calendário foi entregue a Israel na Torá, e consiste em festas com significados proféticos, que apontam para eventos ainda por vir. E antes que alguém diga que isso é "judaísmo", e que seguir tais festas é "judaizar", lembre-se de que cada uma destas festas marcam também eventos importantes de nossa fé em Yeshua.
Foi em Pessach que Yeshua foi crucificado, em Bikurim que ele ressurgiu dos mortos. Foi durante a contagem do Ômer que ele apareceu ressurreto a muitos, e em Shavuot que ele derramou seu Espírito sobre os discípulos. Assim, esse calendário não é apenas um calendário judaico, mas sim o calendário bíblico, o calendário de Deus, e o calendário de Yeshua.
Porém, sabemos pela história que a igreja se desconectou de suas raízes. Desde os primeiros séculos a rixa entre judeus não crentes e gentios crentes provocou uma ruptura, levando a igreja a perder parte dessa identidade considerada judaica em sua essência.
A igreja passou pouco a pouco a abandonar o calendário bíblico, e a adotar outro calendário, com outras festas, outros eventos, que nada tem a ver com a nossa fé. Foi assim que surgiu o Natal, o dia de São João, e a Páscoa cristã (que não tem nada a ver com a Pessach das Escrituras).
Ao abandonar o calendário bíblico, a necessidade de uma identidade própria levou a igreja a "cristianizar" festas pagãs que já existia entre os gentios. O natal, por exemplo, era a festividade do natalis solis invictus (nascimento do sol vitorioso), uma festa mitraica, em homenagem ao deus sol. O dia de São João coincide com as festividades do solstício de verão, a Páscoa cristã coincide com o equinócio, festividades repletas de idolatria, misticismo, orgias, glutonarias, e todo o tipo de coisa detestável aos olhos do Eterno.
Mas já há tanto tempo que essas festas foram cristianizadas e seus sentidos foram transformados, qual o problema com elas então?
Na verdade essas festas não foram transformadas em sua essência, e os rastros do paganismo são ainda muito fortes. Todos celebram o Natal com Papai Noel, guirlanda e árvore de natal, todos esses itens, além de não terem qualquer rastro nas escrituras, ou na vida de Yeshua, são elementos de idolatria.
Papai Noel é um ídolo nórdico, assim como a árvore de natal simboliza o carvalho de Odim, e as guirlandas são oferendas a demônios. O coelho sempre foi um símbolo de fertilidade nas festas pagãs, assim como o ovo, que agora é de chocolate. O pular fogueiras era um antigo ritual de passagem e de consagração a demônios. Na verdade, não foram as festas que foram cristianizadas, e sim o cristianismo foi paganizado.
O Eterno tem nos levado ao conhecimento dessas coisas para que tenhamos a nossa identidade restaurada. Nossa identidade está naquilo que o Eterno tem feito na humanidade através de seu povo Israel, e nós temos sidos enxertados em Israel (Rm 11:17).
Nosso Deus é o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, nossa bíblia é a bíblia de Israel, e nosso Messias é o Messias de Israel, porque nosso calendário seria outro? Nossos apóstolos eram judeus, e todos eles celebraram as festas de Israel, que são sombra do Messias. (At 13:14; 16:13; 20:6; 20:16)
E antes que se possa citar a carta aos Gálatas, nossos apóstolos condenaram sim o legalismo, e a obrigatoriedade de guardar a Torá para a salvação. Mas creio que poucos atentam corretamente para as palavras de Paulo nesta carta.
“Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos, como é que estão voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder? Querem ser escravizados por eles outra vez? Vocês estão observando dias especiais, meses, ocasiões específicas e anos! Temo que os meus esforços por vocês tenham sido inúteis”. Gálatas 4:9-11.
Observe que Paulo está dizendo “Mas agora, conhecendo a Deus...”, ele usa esta expressão porque estava direcionando sua fala aos gentios, que antes não conheciam a Deus, e agora, pela fé em Yeshua, estão se convertendo ao Deus de Israel. Ele continua: “...estão voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder?”. Com certeza Paulo não está falando diretamente das festas da Torá, pois os gentios não guardavam essas festas. Se eles estavam voltando, é porque estavam tornando a fazer algo que faziam antes.
O que Paulo está alertando para o princípio pelo qual esses gentios estavam sendo conduzidos ao celebrarem as festas bíblicas. A imposição das festas bíblicas como obrigatórias para a salvação, como estava acontecendo na Galácia (Atos 15:1), era o mesmo que celebrar festas pagãs, em que os gentios se sentiam obrigados a fazer tais celebrações para aplacar a ira dos deuses. Assim, o “princípio” que estava sendo utilizado era o mesmo, “fraco e sem poder”, mesmo que as celebrações fossem bíblicas.
Aos Colossenses Paulo também diz:
“No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, pela circuncisão de Cristo;” ... “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”. Colossenses 2:11;16-17.
Perceba que Paulo ordena o “não julgar”. Isso era necessário devido ao contexto em que esses crentes entre os gentios estavam vivendo.
Um gentio celebrando festas bíblicas era mal visto por judeus não crentes, visto que não eram circuncidados. Por isso, estes judeus resistiam a essa ideia. Devido a essa oposição, alguns judeus crentes queriam obrigar os gentios à circuncisão, para estarem "aptos" à celebrarem as festas. E haviam ainda gentios, oriundos do estoicismo, que constrangiam os gentios crentes a não celebrarem festas judaicas, pois os estoicos acreditavam que todo o tipo de celebração era carnal e má em sua essência. Portanto, a recomendação de "não julgar" era extremamente pertinente ao momento em que estavam vivendo.
Para dar uma resposta aos judeus que queriam obrigar os gentios a circuncisão, Paulo afirma que “também estais circuncidados”, indicando que, por crerem em Yeshua, os discípulos dentre os gentios estavam habilitados a celebrarem as mesmas festas que os judeus. E termina afirmando que tais festas são sombras de coisas futuras, que apontam para o Messias.
Ou seja, as festas bíblicas estão totalmente sintonizadas com nossa fé em Yeshua, tanto no que ele fez, como no que ele ainda vai fazer, quando do seu retorno. Esta é a razão pelo qual Paulo diz que as festas são "sombras das coisas futuras".
Para os estoicos, Paulo dedica os últimos versículos do capítulo dizendo:
"Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como:Não toques, não proves, não manuseies?As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne." Colossenses 2:20-23.
Analisando os textos bíblicos podemos claramente reconhecer que as festas bíblicas fazem parte de nossa identidade como servos de Deus. Essa identidade nos foi tirada pelo antissemitismo que adentrou na igreja nos primeiros séculos.
O problema de Paulo nunca foi com as festas, pois, ele mesmo celebrava essas datas (Atos 17:2; 20:6; 20:16; 1 Coríntios 5:8; 16:8). O problema era com a imposição, obrigação ou proibição, pois ele entendia que o valor das festas estão nos seus ensinos, e não nas celebrações em si, portanto deveriam ser praticadas com entendimento e fé, e não por obrigação. Os gentios crentes deveriam ter a liberdade em celebrá-las.
Este é o ponto: o discípulo de Yeshua dentre os gentios tem a liberdade para celebrar as festas bíblicas, entendendo seus significados, e enxergando nelas a obra e promessas de Yeshua.
Após séculos em que os discípulos foram obrigados a abandonarem tais celebrações, sendo-lhes imposta celebrações pagãs, a restauração do calendário bíblico se torna mais do que a simples liberdade para celebrarmos as festas, se torna também uma questão de resgatarmos nossa verdadeira identidade, como servos de Yeshua
Que o Eterno restaure nossas vidas no conhecimento de sua vontade!
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